6 de out. de 2009

SEM TERRA E SEM CHÃO PRÁ PISAR


O FATO. Cerca de 200 famílias ocuparam uma região pertencente à fazenda Capim da empresa Sucrocítrico Cutrale, no município de paulista de Iaras. Os sem-terra usaram os tratores que pertencem à própria fazenda prá destruir pés de laranja (existe estimativa que apontam que foram derrubados cerca de 7 mil pés de laranjas).

ANTES DO FATO. Os sem-terra estão acampados na fazenda da empresa Cutrale desde a semana passada. As terras da fazenda abrangem terras nos municípios de Iaras, Lençóis Paulista e Borebi, num total de 2,7 mil hectares.

A JUSTIFICATIVA. O movimento justifica a ocupação como forma de denunciar que a empresa está ocupando ilegalmente terras públicas, caracterizando uma grilagem de terras para plantar laranja. Derrubar os pés de laranja seria um ato simbólico contra a irregularidade.

A PROMESSA. Os sem-terra afirmam que vão continuar acampados e que vão plantar feijão, arroz, milho e produtos da agricultura familiar.

POR TRÁS DOS FATOS. O Brasil está entre os dez países do mundo com maior índice de concentração de riqueza e de terras. A lei que versa sobre a posse de terras no Brasil data de 1850, assegurando que os senhores de engenho pudessem dizer que eram donos das terras. A Lei Áurea data de 1888, o que distancia os negros em quase 40 anos da possibilidade de ter posse sobre a terra, junto com o negro brasileiro estão as classes às margens da sociedade. A tentativa de reforma agrária no Brasil não atende a contento seu objetivo por falta de seriedade política e não por falta de terras que possam ser utilizadas para esse fim.

O QUE TEM O SENADO COM ISSO. Alguns senadores DEMos e PSDBistas soltam o verbo no Plenário da Casa contra o fato acontecido e chegam a acusar os movimentos sem terra de anarquista, terroristas e termos correlatos.

O ÁCIDO CÍTRICO DA ANÁLISE. Começando pelo fim. Os senadores que se colocaram contrários à derrubada dos pés de laranja da fazenda da Sucrocítrico Cutrale não falaram em nome da violência, mas em nome da posse da propriedade por parte da empresa multinacional, defenderam a empresa e não a vida, defenderam a propriedade acima da vida, do bem comum e da justiça histórica. Confundiram o princípio democrático com princípio jurídico do capital.

Ao soltar o verbo sobre os fatos, alguns senadores mal-assessorados eu ignorantes (literalmente: ignoram os conceitos) chegaram a afirmar que os sem-terra são anarquistas e eu diria: que bom! Mas é uma pena que um dos 81 indivíduos do Senado não saibam o que é o anarquismo e o confundem com terrorismo, na superficialidade da palavra. Se são anarquistas, eu espero que sim. Se são terroristas, eu diria que não. Se são ignorantes tanto quanto os senadores, eu diria que sim, mas os sem terra não tiveram chance de estudar e ainda não tem, aos senadores cabe a obrigação de fazê-lo prá não legislar como um asno dentro de um estábulo.

Foram derrubados 7.000 mil pés de laranjas, a Sucrocítrico Cutrale tem 1 milhão de pés de laranjas, ou seja, o que se derrubou corresponde a 0,7% do total. Isso não daria nem prá fazer projeto de responsabilidade social e muito menos prá fazer um projeto de marketing da Cutrale.

Que as imagens são fortes ao derrubarem pés de laranja, isso não restam dúvidas. Se existe ali brutalidade, dureza, crueza e violência, isso também não resta a menos dúvida. O que esperar de um povo que não tem educação básica, saúde básica, habitação, emprego, lazer, cultura...? Espera-se a bestialidade, espera-se um estado de natureza de “homem lobo do homem”, espera-se a brutalidade e o que é pior, espera-se a bestialidade de uma emissora de televisão que não tem o menor escrúpulo em manipular dados, informações, fatos, história, passado e futuro... essa sim comete crime de terrorismo.

Senhor Senador Gilberto Goellner (DEMo-MT), senhor senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), senhor senador sem-voto João Tenório (PSDB-AL), senhor senador Walter Pereira (PMDB-MS, senhora senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), ACM Jr. (DEMo-BA- vai falar ruim assim na Bahia!) se os senhores acham que ser sem-terra é fácil, se acham que cortar arame farpado de cerca é fácil; se acham que dirigir um trator e passar por cima de pés de laranja sob o medo de ser alvejado por uma bala e pelas palavras comprometidas da Globo é fácil, então saiam do Plenário refrigerado e vão até o acampamento de lona preta mais próximo. É fácil de encontrar, devem estar à margem de qualquer BR ou sob a mira de algum jagunço de fazendeiro.

Senadores ignorantes, revolução é revolução exatamente porque se almeja mudar as formas como são feitas as leis que não representam as vontades. Revolução é revolução porque não se segue a Constituição que oprime mais o homem do que o defende. Senadores ignorantes, revolução é revolução porque se pensa em mudança, então não espere senador Osmar Dias (PDT-PR), que os movimentos sociais devem fazer revolução seguindo a Constituição, isso é um contra-senso e uma burrice.

P.S.: O que são 7 mil pés de laranjas perto das ações do Sarney, Collor, Renan?

P.S. 2: Revista Veja não é referencial bibliográfico sério.

Bebendo suco de tamarindo sem açúcar,

Política Ácida
politicaacida@gmail.com

7 comentários:

  1. é exatamente isto.muito bom o comentário,cada um luta com as armas que possui e,tomara, que essa luta só aumente.

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  2. -Pode até ser dificil ser integrante do MST mas isso não justifica nada. Também nã deve ser fácil ser integrante do Hamas.
    -A constituiçao foi feita para ser comprida, não para ser desprezada em nome de revoluções;
    -O problema não é só os 7 mil laranjas derrubada, é a invasão de propiedade privada, algo ilegal.
    -O que você acha? Que só porque há corrupção as leis devem ser descumpridas?

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  3. Meu caro anônimo, obrigado pelo seu comentário em tópicos.
    Em primeiro lugar, o texto deixa claro que existe brutalidade e violência nas imagens de se derrubar árvores de uma empresa privada;
    Segundo, ao citar a Constituição Brasileira o texto está chamando a atenção do conceito histórico de revolução e protesto que os senhores senadores e, ao que parece, você também não entende, que se fosse fazer uma revolução com as leis que estão colocadas e forma como estão sendo executadas do que serviria uma revolução? O ato de proteste é diametralmente oposto ao poder vigente, essa é a condição ímpar das revoluções, das lutas e dos protestos, nesse sentido, o que você e os senadores não perceberam é que a Constituição não vai nunca ser seguida por ideais de revolucionários... revolução não é uma causa advocatícia disputada em tribunais.

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  4. Eu acho que a constituição é comprida, comprida demais! E que as 7000 laranjas derrubadas dariam um bom suco de laranja, e que ao beber esse suco ácido (demais também, 7000 laranjas, pô, haja ácido) os sem-terra fossem alumiados com o saber que só um doutorado (bem formado) tenha recebido. Assim seriam 2 cajadadas num mesmo coelho! Rá!

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  5. Muito bem! finalmente algo em defesa dos movimentos sociais no seu blog, vejo que a convivência (e a ausência) fazem o homem.

    Parabéns pelo texto.

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  6. o único problema foi o mst não ter sesquestrado os donatários das capitanias heriditárias que ainda existem no braZil!

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  7. Não apoio terrorismo e vandalismo sob qualquer que seja o pretexto.

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